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30 de abr. de 2013

A história não se apaga

Deixei passar alguns dias para dar meu pitaco sobre o novo Maracanã. Li e ouvi muita gente conta e muita gente a favor do novo formato do velho estádio. Não, o Maracanã não acabou. A verdade é que melhorou. Futebol é um espetáculo cada vez mais caro e que quem paga merece conforto.

Essa conversa fiada de que "nunca mais vamos ter o velho Maracanã de volta", blá blá blá, não cola. Se fosse assim acharíamos normal um estádio com 250 mil pessoas apertadas para uma final de Copa do Mundo. E sabemos que não pode ser assim.

Fui ao Maracanã a primeira vez 85, com meu pai. Fomos num jogo mais fraco para evitar problemas de violência, que na época já era latente. Era uma Bangu x Botafogo e ficamos nas cadeiras azuis. Achei desconfortável. Mas vi pela primeira vez aquele gigante, fiquei impressionado e por alguns dias guardei o ingresso do jogo.

Fui ainda várias outras vezes ao estádio e fiquei na arquibancada, dura, sempre apertado, sempre com medo de pancadaria ou de um saco de mijo que pudesse vir de cima. Depois, já formado, voltei como jornalista. Condições de trabalho horríveis, sem lugar para apoiar o computador, cadeiras de ferro desconfortáveis, banheiros e bares em condições precárias. Ou seja, um horror.

Claro que acho que absurdo o Governo do Rio gastar mais de um bilhão num estádio que se fosse demolido, como eu penso que deveria, e fosse feito um novo teria custado três vezes menos. Mas aí não vale, porque roubar é preciso e navegar não é preciso.

Mas o novo estádio é mais confortável e não tira em nada a emoção de torcer. Não vem com essa de que não dá mais para correr pela arquibancada, que isso ou aquilo. Tremendo saudosismo, que não acaba com a história. História é história e ponto final.

22 de abr. de 2013

Leia com atenção

Ler está cada vez mais difícil. Melhor dizendo: se concentrar em uma leitura está cada vez mais difícil. Daí a entender o que se está lendo é um passo ainda maior e mais perigoso. Digo isso porque, nos últimos dias, recuperei um velho hábito que andava esquecido em mim: ler.

E voltei a ler da forma mais moderna: através do tablet. Baixei o aplicativo do Kindle no Ipad, comprei um par de livros na Amazon e comecei a devorá-los como antes.

Sei que o mundo anda rápido, te exige cada vez mais uma leitura mais rápida, tirando conclusões cada vez com menos tempo de refletir e exigindo de você uma reação na maior velocidade e com a menor margem de erro possível. Sinal dos tempos.

Mas ainda é possível ler com calma. Sossegado. Sem interrupções. Acho até que voltei a ler melhor desta vez. Melhor no livro do que no twitter por exemplo.

E cito o twitter, porque seus 140 caracteres me lembram que na semana passada publicamos um anúncio numa página do Facebook, buscando profissionais para trabalhos esporádicos em lugares específicos: freelancers para as regiões Sul, Norte, Serrana e dos Lagos do Rio de Janeiro. Texto curto, bem escrito (não fui eu quem escreveu), bem explicado. Pois não bastou.

Recebi uma enxurrada de emails de gente da capital, ou de Niterói ou da Baixada Fluminense dizendo que se encaixava no perfil e coisa e tal. Até de Minas Gerais e São Paulo recebi emails. Respondi um a um, explicando que eles não se encaixavam porque o anúncio era claro: queríamos gente que trabalhasse e morasse na região identificada no texto.

Alguns me responderam pedindo desculpas pela falta de atenção na leitura; outros insistiram dizendo que sim se encaixavam de qualquer forma; outros pediam que eu os indicasse alguém para mandar currículo. Outros copiavam textos formais da internet que me fizeram rir. Outros foram incapazes de ler no texto que meu nome é Marcus e não Márcio. E depois da terceira tentativa de fazê-los entender que estavam me chamando com o nome errado, a resposta veio com um simples :).

Como pensar em contratar quem é incapaz de entender a mensagem de um texto simples? Como confiar que alguém seja capaz de produzir uma matéria de qualidade, por mais simples que seja o assunto, se elas não conseguem ler um texto e saber se estão ou não dentro do que é pedido? Difícil tarefa, não?

É certo que chegaram na minha caixa vários emails corretos, de gente (e boa) das regiões procuradas. Mas, infelizmente, foram minoria.


17 de abr. de 2013

Se eu fosse polícia

Tem dias na profissão que você precisa ir a lugares que você não são lá muito agradáveis. Às vezes IML, porta de hospital, velório, um acidente grave, delegacia, por exemplo. Hoje foi dia de delegacia. E lá, ouvi um caso paralelo ao que estava acompanhando.

Uma mulher estava denunciando o companheiro por agressão. Ela parecia tranquila. Conversava com um policial e o agressor já estava devidamente preso. A agredida estava acompanhada de alguns amigos. Três para ser mais exato. Todos homens. Quando o policial saiu da conversa um deles começou a falar.

"Moro com minha mulher há dez anos. Uma vez, bati nela e deformei a cara dele" dizia, sem mexer músculo e sem me parecer nem um pouco arrependido da covardia; e seguiu: Mas nos acertamos, e faz seis anos que não toco no fio de cabelo dela", disse, como se fosse um verdadeiro herói.

Um outro se meteu. "Esse negócio de bater em mulher não tá com nada. Estou com a minha há dezesseis anos e nunca precisei fazer isso" disse o machão, como se referi-se a um objeto na estante. E virou-se para a mulher agredida: "Você é que sabe se quer continuar com a denúncia ou deixar tudo na boa. Se você continuar, ele vai pra Polinter. Se retirar, vamos juntar nele e dizer que foi a última vez. Pensa bem", disse, sem ameaçar, mas ameaçando.

Imagino que essas pessoas estejam acostumadas a lidar com esse tipo de violência, que é mais comum do que podemos pensar. Mas eu, se fosse polícia, tinha metido o primeiro falante na cadeia na hora e começado a investigar o segundo. Dois imbecis e que deveria estar tão na cadeia quanto o que já estava.

12 de abr. de 2013

É meu, mas não é

Eu ando de ônibus. Sou dos que preferem atravessar a rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, todas as manhãs rumo ao trabalho, no Centro, com alguém dirigindo para mim. Vou lendo, ouvindo rádio. Mesmo que isso signifique arriscar a minha vida e a de outros passageiros com motoristas que, quase sempre, dirigem acima dos 60 km/h permitidos e nunca fiscalizados na Praia do Flamengo. E para andar de ônibus nada melhor do que ter um cartão Riocard, o bilhete único carioca.

O que não pode é perdr o bilhete, porque se você perde...

Bem, perdi o meu no carnaval. Quarta-feira de Cinzas para ser mais exato. Num bloco na Gávea, trabalhando. Na quinta-feira já providenciei o cancelamento pelo site. Melhor seria dizer "nos sites". Porque são dois. Não sei o motivo, mas cada hora que preciso de uma coisa, entro no site, mas acaba sendo no outro.

Imprimi o papel da perda.

Depois disso, fiz um pedido de um novo cartão, no site. Site confuso, pedem dados demais, os caminhos são tortuosos, os termos parecem científicos . Liguei para a ajuda telefônica, demoraram a me atender, e tive que fazer passo a passo com a telefonista. Consegui. Imprimi o boleto. Paguei pela internet e tive que imprimir também o comprovante de pagamento.

Dentro de sete dias o cartão estaria disponível na agência Itaú que eu escolhesse pelo site. Lista de agências todas desordenadas, um caos. Se você der sorte de achar a sua entre as dez primeiras da lista, ótimo. Se não...

Acontece que sete dias depois, na data marcada, eu estaria de viagem, férias, longe. Deixei para depois. Não precisava do cartão mesmo. Volto das férias e vou buscar o cartão, pensei. Mas aí encontro fila de início do mês no banco. Nem pensar. Volto amanhã.

Voltei. Três folhas de papel impressas e...falta mais um papel, informa a caixa, quase que rosnando. Um papel de recibo, que só fica pronto depois que o cartão fica pronto. Tem que ir no site (qual dos dois, meu Deus?), seguir o caminho e imprimir.

- Mas já paguei, o cartão está no meu nome, é meu, o crédito que está nele é meu, aqui está minha identidade, argumento.

Nada feito. Sem o maldito recibo, nada. Volto para casa. Aí acabou a paciência e acabou também a tinta da impressora acabou. Agora, só no dia seguinte.

Dia seguinte, Imprimo o quarto papel e peço, por favor, à minha mulher para ir buscar o cartão para mim no banco. Se volto e a caixa do banco me pede um papel a mais, acho que perco a paciência de vez. Minha mulher foi e em cinco minutos voltava para casa com eu cartão. Acabou? Não.

Ainda é preciso desbloquear o cartão: dois dias. Depois transferir o saldo do cartão perdido para o cartão novo: mais dois dias.


- Mas já paguei, o cartão está no meu nome, é meu, o crédito que está nele é meu. Não adianta o argumento. A burocracia neste país sempre vence. Sempre. Perdi meu cartão no dia 13 de fevereiro e só no dia 16 de abril. Mais de dois meses. Parabéns aos envolvidos.