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17 de abr. de 2013

Se eu fosse polícia

Tem dias na profissão que você precisa ir a lugares que você não são lá muito agradáveis. Às vezes IML, porta de hospital, velório, um acidente grave, delegacia, por exemplo. Hoje foi dia de delegacia. E lá, ouvi um caso paralelo ao que estava acompanhando.

Uma mulher estava denunciando o companheiro por agressão. Ela parecia tranquila. Conversava com um policial e o agressor já estava devidamente preso. A agredida estava acompanhada de alguns amigos. Três para ser mais exato. Todos homens. Quando o policial saiu da conversa um deles começou a falar.

"Moro com minha mulher há dez anos. Uma vez, bati nela e deformei a cara dele" dizia, sem mexer músculo e sem me parecer nem um pouco arrependido da covardia; e seguiu: Mas nos acertamos, e faz seis anos que não toco no fio de cabelo dela", disse, como se fosse um verdadeiro herói.

Um outro se meteu. "Esse negócio de bater em mulher não tá com nada. Estou com a minha há dezesseis anos e nunca precisei fazer isso" disse o machão, como se referi-se a um objeto na estante. E virou-se para a mulher agredida: "Você é que sabe se quer continuar com a denúncia ou deixar tudo na boa. Se você continuar, ele vai pra Polinter. Se retirar, vamos juntar nele e dizer que foi a última vez. Pensa bem", disse, sem ameaçar, mas ameaçando.

Imagino que essas pessoas estejam acostumadas a lidar com esse tipo de violência, que é mais comum do que podemos pensar. Mas eu, se fosse polícia, tinha metido o primeiro falante na cadeia na hora e começado a investigar o segundo. Dois imbecis e que deveria estar tão na cadeia quanto o que já estava.

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