Na memória de todos os brasileiros, Zagallo é um homem cheio glórias, títulos, polêmicas, histórias. Mas cada um tem a sua, particular, e eu, como jornalista, também tenho a minha para contar. E a minha história com esse mito do futebol brasileiro que hoje completa 80 anos, é simples e até mesmo sem graça. Mas nunca saiu da minha memória.
Deu-se numa manhã quente do Rio de Janeiro, em plena Cidade Nova onde é a redação do LANCE!. Nova é só no nome. O ano: 1997. O mês: talvez tivesse sido entre setembro e outubro, não lembro exatamente.
Eu era chefe de reportagem do diário e era o primeiro a chegar na redação. Acordava em casa, em São Cristóvão às 6h da manhã, ouvindo o Show do Antonio Carlos e descia a rua General Padilha para pegar o 473 rumo à Presidente Vargas e dali, caminhando até o LANCE!. Chegava, lia os jornais, fazia a crítica do dia (coisa difícil para alguém de mais de 35 anos, hoje, imagine na época com menos de 25!). Eis que, por volta de umas 8h30 da manhã, o porteiro anuncia a chegada do então técnico da Seleção Brasileira.
Autorizei a entrada dele com o carro, é óbvio, no estacionamento do jornal. Uma Mercedes prata, lembro bem. E, em sua simplicidade, o Velho Lobo pediu ao jovem jornalista sem reação, vendo à sua frente o técnico da Seleção Brasileira que iria comandar o time na França um ano depois na Copa do Mundo, tão somente selos. Selos atrasados da promoção da bola do LANCE!, que estava colecionando para os netos. A bola que dizia comemorar os quatro títulos mundiais do Brasil. E ali, na minha frente, estava um homem que esteve justamente nos quatro títulos mundiais que a bola celebrava.
Fosse algum "famosillo" dos dias de hoje mandaria logo um assessor, um motorista, um "aspone" com toda empáfia do mundo ir buscar os selos. Zagallo nunca foi desses. Foi ele mesmo. Pessoalmente, sozinho, sem frescura, sem se esconder, discreto, gentil, educado. Pegou os selos que queria e foi embora. Imagino que depois, tenha ido enfrentar uma longa fila para trocar as cartelas pelas bolas para seus netos. Não há registro do fato aqui narrado. Não havia fotógrafos na redação àquela hora. Nem máquinas digitais para se registrar o momento. Era como antigamente: registo apenas na memória.
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