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23 de jun. de 2011

O conto do empresário

O empresário amigo diz ao jogador: "Olha, você vai assinar contrato de cinco anos com um time do Farofistão. Larga esse negócio de Brasil. Lá você vai ganhar uma salário dez vezes maior que aqui nesse time de ponta. Mas o país é ótimo, as pessoas adoram futebol e você vai ser rei. Mansão, carros na garagem, pode levar os amigos do Brasil de vez em quando, eles garantem que tem feijão e farinha pra comprar no mercado. A pressão é outra e não liga pra essas histórias de que faz frio e de quem tem terremoto. Tem lugar no Brasil que faz mais frio e a terra também treme. Agora, vou procurar um amigo meu na imprensa, soltar a notícia e você, por sua parte, pode começar a demonstrar insatisfação com o técnico, com o clube. Vamos forçar a barra para romper o contrato".

Essa é a versão nova do que antes chamávamos o "Conto do Vigário", que agora virou o "Conto do Empresário". O vigário de antes vira o empresário de hoje. Aquele em quem o jogador confia plenamente sua vida, seus contratos, seu dinheiro, seu futuro e no fim acaba quebrando a cara.

O Farofistão, claro, é um país fictício, tirado das histórias do Tio Patinhas da minha infância. Mas o contexto é quase sempre verdade.

O sujeito venda ilusão ao jovem, humilde e promissor jogador de futebol (às vezes também ao renomado, campeão do mundo e rico). Hoje o Farofistão pode ser a Ucrânia, o Uzbequistão, a China, a Grécia, o México e muitas vezes é também, dependendo do time, países como Portugal, Espanha, França e Itália.

A história continua seis meses depois do contrato assinado, com o jogador infeliz, à beira de uma depressão, e que arranja um empréstimo para voltar logo ao Brasil. De volta, o discurso muda: não quero sair daqui nunca mais, não quero voltar pra lá, aqui é que sou feliz.

Ora, se é assim sempre, então porque é que assinou contrato? Porque é que aceitou e caiu na conversa do empresário? Era muito dinheiro, né? E vamos espalhando pelo mundo talentosos jogadores que futebol que não cumprem o que assinam, mas que ficam as contas bancárias gordas e a de seus empresários também. E jogam qualquer ética e profissionalismo para baixo do tapete.

Bom, se for um tapete árabe, eles nem ligam.

P.S. Esse post é em homenagem ao Roberto Carlos, que já perto de aposentar e não tenho mais onde guardar tanto dinheiro, foi se aventurar em um time de quinta categoria na Rússia. E aí se sujeita a receber bananas em campo com sinal de puro racismo e ódio de um país que vai receber a Copa do Mundo de 2018. Roberto Carlos não merecia passar por isso, mas poderia ter evitado. Uma dose a menos de ganância faria bem nessa hora.

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